quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Especialista conta o que fazer para estádios serem rentáveis após o Mundial

O presidente da Amsterdã Arena e também da Arena Brasil, Henk

Markerink, conta ao Correio o que é preciso fazer para estádios

continuarem a gerar lucros, com base em experiência holandesa

bem-sucedida

 

Amsterdã Arena: inaugurado em 14 de abril de 96, capacidade para 51.600

pessoas, 216 assentos para imprensa, 20 min é o tempo que o teto retrátil leva para

fechar, 8 milhões de euros é o lucro anual e dois anos é o prazo final para quitar o

financiamento destinado à construção.

 

Fundada em abril de 1996, a Amsterdã Arena foi o primeiro estádio

fora dos Estados Unidos a ganhar o status de “arena multiuso”. A casa

do time holandês Ajax tem capacidade para 51.600 pessoas e é palco

não apenas de partidas de futebol e de outros esportes, mas também

de shows, palestras, congressos e afins. A versatilidade do local,

aliada a uma boa administração, rende à Amsterdã Arena um lucro

anual de cerca de oito milhões de euros. Um exemplo de

sustentabilidade.

 

O caso de sucesso fez com que fosse criada, em 2002, a Amsterdã

Arena Advisory, uma empresa para prestar consultoria mundo afora,

“ensinando” como fazer um estádio ser rentável e, principalmente,

multiuso. No Brasil, a instituição já prestou consultoria para o Grêmio,

por exemplo. Mas a maior missão dela no Brasil começou quando o

país foi anunciado sede da Copa de 2014. Na Bahia, a empresa é

parceira e consultora da Fonte Nova, que deverá se chamar Arena

Brasil.

 

O presidente da Amsterdã Arena e também da Arena Brasil, Henk

Markerink, esteve no país na semana passada para participar de um

congresso em Manaus sobre sustentabilidade e legado pós-copa dos

estádios. Esses dois tópicos são importantíssimos para que, ao fim do

Mundial de 2014, a herança deixada não seja 12 elefantes brancos e

caros para administrar.

 

Segundo Henk, essa é a questão crucial a ser levada em consideração

nos investimentos. “Para o país, é muito ruim aplicar milhões numa

construção que não será usada depois da Copa do Mundo. O pior

exemplo é o da África do Sul. Estamos trazendo o nosso conhecimento

para deixar como legado um estádio que se sustente, economicamente

rentável”, comentou o holandês em conversa com o Correio.

 

Para fazer uma arena multiuso que realmente vá ser usada, Henk diz

ser preciso, em primeiro lugar, traçar um perfil da cidade onde ela

será construída. Nesse sentido, erguer uma estrutura desse tipo no Rio

de Janeiro é muito mais fácil do que em Manaus, por exemplo, pois a

cidade já recebe naturalmente muitos shows, atrações e turistas — e

isso tornaria mais fácil o uso da arena.

 

“Temos de analisar o potencial de cada lugar. E isso vai influenciar

até no design do estádio. Se a cidade não recebe muitos shows,

podemos construir escritórios no estádio, restaurantes, escolas…

Misturando tudo isso, temos diferentes exemplos de arena. O

importante é criar vida permanente dentro do local”, afirma Henk.

 

E foi isso que eles conseguiram na Amsterdã Arena. Segundo Henk, o

lucro chega a 8 milhões de euros por ano, com jogos de futebol e os

mais diversos eventos. “Quatro anos depois de construído, o estádio

começou a se pagar totalmente.”

 

No caso dos jogos de futebol, a receita de sucesso está em fazer da

arena uma “casa” para a torcida. “Temos de deixar os torcedores

confortáveis e seguros. Só assim veremos famílias, crianças e idosos

 

frequentando”, comenta Henk. “Além disso, os serviços têm de ser

bons. O banheiro precisa estar limpo, a pessoa deve conseguir

comprar uma bebida ou um lanche com facilidade. O estádio vira um

lugar para conhecer pessoas, conversar, passar um dia agradável”,

explica. Na Holanda, a ideia deu certo. A média de público nos jogos

do Ajax aumentou de 18 mil para 48 mil frequentadores.

 

Henk Markerink diz que a melhor maneira de administrar o estádio é

por meio de uma parceria público-privada, que envolva a cidade, um

clube e empresas. Para ele, quando apenas um time administra o

local, a tendência é que a arena fique em segundo plano. “Sempre há

o dilema: investir no time ou no estádio? Se a equipe vai mal, vão

preferir comprar um jogador ou contratar outro técnico”, argumenta.

 

Quem é ele

 

Henk Markerink é especialista em estádio e gerenciamento,

preparação de projetos e programas de requisitos, análise

financeira e plano mestre. Ele obteve grau de mestre em

engenharia civil na Universidade Técnica de Eindhoven e é

arquiteto e vice-presidente da IAVM — International

Association of Venue Managers (Associação Internacional

de Gerentes de Sedes de Eventos, em tradução livre),

entidade com 85 anos de existência.

  

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A parceria com a Fonte Nova não inclui só a consultoria na

construção e gestão do estádio, mas também uma aliança com a

Universidade da Bahia para cursos de prestação de serviço de

qualidade.

 

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