O presidente da Amsterdã Arena e também da Arena Brasil, Henk
Markerink, conta ao Correio o que é preciso fazer para estádios
continuarem a gerar lucros, com base em experiência holandesa
bem-sucedida
Amsterdã Arena: inaugurado em 14 de abril de 96, capacidade para 51.600
pessoas, 216 assentos para imprensa, 20 min é o tempo que o teto retrátil leva para
fechar, 8 milhões de euros é o lucro anual e dois anos é o prazo final para quitar o
financiamento destinado à construção.
Fundada em abril de 1996, a Amsterdã Arena foi o primeiro estádio
fora dos Estados Unidos a ganhar o status de “arena multiuso”. A casa
do time holandês Ajax tem capacidade para 51.600 pessoas e é palco
não apenas de partidas de futebol e de outros esportes, mas também
de shows, palestras, congressos e afins. A versatilidade do local,
aliada a uma boa administração, rende à Amsterdã Arena um lucro
anual de cerca de oito milhões de euros. Um exemplo de
sustentabilidade.
O caso de sucesso fez com que fosse criada, em 2002, a Amsterdã
Arena Advisory, uma empresa para prestar consultoria mundo afora,
“ensinando” como fazer um estádio ser rentável e, principalmente,
multiuso. No Brasil, a instituição já prestou consultoria para o Grêmio,
por exemplo. Mas a maior missão dela no Brasil começou quando o
país foi anunciado sede da Copa de 2014. Na Bahia, a empresa é
parceira e consultora da Fonte Nova, que deverá se chamar Arena
Brasil.
O presidente da Amsterdã Arena e também da Arena Brasil, Henk
Markerink, esteve no país na semana passada para participar de um
congresso em Manaus sobre sustentabilidade e legado pós-copa dos
estádios. Esses dois tópicos são importantíssimos para que, ao fim do
Mundial de 2014, a herança deixada não seja 12 elefantes brancos e
caros para administrar.
Segundo Henk, essa é a questão crucial a ser levada em consideração
nos investimentos. “Para o país, é muito ruim aplicar milhões numa
construção que não será usada depois da Copa do Mundo. O pior
exemplo é o da África do Sul. Estamos trazendo o nosso conhecimento
para deixar como legado um estádio que se sustente, economicamente
rentável”, comentou o holandês em conversa com o Correio.
Para fazer uma arena multiuso que realmente vá ser usada, Henk diz
ser preciso, em primeiro lugar, traçar um perfil da cidade onde ela
será construída. Nesse sentido, erguer uma estrutura desse tipo no Rio
de Janeiro é muito mais fácil do que em Manaus, por exemplo, pois a
cidade já recebe naturalmente muitos shows, atrações e turistas — e
isso tornaria mais fácil o uso da arena.
“Temos de analisar o potencial de cada lugar. E isso vai influenciar
até no design do estádio. Se a cidade não recebe muitos shows,
podemos construir escritórios no estádio, restaurantes, escolas…
Misturando tudo isso, temos diferentes exemplos de arena. O
importante é criar vida permanente dentro do local”, afirma Henk.
E foi isso que eles conseguiram na Amsterdã Arena. Segundo Henk, o
lucro chega a 8 milhões de euros por ano, com jogos de futebol e os
mais diversos eventos. “Quatro anos depois de construído, o estádio
começou a se pagar totalmente.”
No caso dos jogos de futebol, a receita de sucesso está em fazer da
arena uma “casa” para a torcida. “Temos de deixar os torcedores
confortáveis e seguros. Só assim veremos famílias, crianças e idosos
frequentando”, comenta Henk. “Além disso, os serviços têm de ser
bons. O banheiro precisa estar limpo, a pessoa deve conseguir
comprar uma bebida ou um lanche com facilidade. O estádio vira um
lugar para conhecer pessoas, conversar, passar um dia agradável”,
explica. Na Holanda, a ideia deu certo. A média de público nos jogos
do Ajax aumentou de 18 mil para 48 mil frequentadores.
Henk Markerink diz que a melhor maneira de administrar o estádio é
por meio de uma parceria público-privada, que envolva a cidade, um
clube e empresas. Para ele, quando apenas um time administra o
local, a tendência é que a arena fique em segundo plano. “Sempre há
o dilema: investir no time ou no estádio? Se a equipe vai mal, vão
preferir comprar um jogador ou contratar outro técnico”, argumenta.
Quem é ele
Henk Markerink é especialista em estádio e gerenciamento,
preparação de projetos e programas de requisitos, análise
financeira e plano mestre. Ele obteve grau de mestre em
engenharia civil na Universidade Técnica de Eindhoven e é
arquiteto e vice-presidente da IAVM — International
Association of Venue Managers (Associação Internacional
de Gerentes de Sedes de Eventos, em tradução livre),
entidade com 85 anos de existência.
A parceria com a Fonte Nova não inclui só a consultoria na
construção e gestão do estádio, mas também uma aliança com a
Universidade da Bahia para cursos de prestação de serviço de
qualidade.
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