domingo, 24 de abril de 2011

Vai uma fábrica de iPad 2 aí?

Guerra pelos chineses

Autor(es): Lino Rodrigues
O Globo - 24/04/2011

O investimento de US$ 12 bilhões que a Foxconn, maior exportadora da China, fará numa fábrica de iPads no Brasil abriu uma disputa entre prefeituras, que estão oferecendo pacotes de isenções Municípios oferecem pacotes de isenções fiscais para sediar fábrica de iPads da Foxconn Aconfirmação de que a Foxconn, maior exportadora da China, vai produzir no Brasil a segunda geração do tablet da Apple, o iPad 2, abriu uma guerra entre municípios pelo investimento bilionário.

Maior fabricante de eletrônicos do planeta, a taiwanesa Foxconn acenou com um desembolso de até US$12 bilhões. Pelo menos duas cidades da região de Campinas saíram à caça desse dinheiro: Jundiaí, a cerca de 60 quilômetros de São Paulo, e a vizinha Indaiatuba. Ambas já abrigam unidades da multinacional. Ao contrário de Indaiatuba, que confirma ter apresentado um pacote de isenções, Jundiaí negocia em silêncio.

Conhecida por não isentar de tributos empresas que se estabelecem no município, a Prefeitura de Jundiaí negocia em segredo um pacote de benefícios para trazer a nova linha de produção da Apple para a cidade. Na semana passada, em uma nova reunião com representantes da Foxconn, o secretário de Desenvolvimento Econômico do município, Ari Castro Nunes Filho, admitiu que o "namoro" com os chineses começou há pelo menos um ano e meio. O encontro, segundo fontes que acompanharam a reunião, também serviu para a prefeitura pedir para que os chineses abrissem o conteúdo das outras propostas, para que pudesse igualar ou melhorar os benefícios para garantir os investimentos no município.

Associação Comercial de Jundiaí já projeta mais ganhos com vendas Já o prefeito de Indaiatuba, Reinaldo Nogueira (PDT), disse que, uma semana antes do anúncio do investimento pela presidente Dilma Rousseff, na recente viagem que fez à China, enviou uma proposta com todos os incentivos (dez anos de isenção de ISS, liberação de taxas de licenciamento) para a direção da empresa chinesa, mas ainda não obteve resposta. Segundo ele, em 2004, a empresa havia procurado a prefeitura para saber os benefícios que teria caso implantasse uma unidade na cidade.

Anos depois, a empresa instalou uma fábrica para celulares que, hoje, emprega 800 funcionários. - Temos condições de abrigar essa nova fábrica. Não oferecemos terrenos, mas podemos conversar para isentar o investimentos de impostos - disse o prefeito.

Sorocaba, que abriga uma pequena linha de produção de cartuchos para impressoras HP, também foi procurada pelos representantes da empresa no ano passado. Na época, os executivos da empresa foram recebidos pelo prefeito Vitor Lippi (PSDB). Não se identificaram inicialmente como representantes da Foxconn, mas receberam todas as informações sobre a cidade. Sorocaba, que será sede de uma nova unidade da montadora japonesa Toyota, se prepara para aprovar na Câmara um projeto do Executivo com a nova lei de incentivos fiscais para beneficiar empresas com grandes investimentos a fazer, como é o caso da Foxconn.

Correndo por fora nessa guerra por incentivos, o empresário Eike Batista disse na semana passada ao GLOBO que, apesar do favoritismo de São Paulo, não desistiu de trazer a fábrica da Foxconn para o Rio de Janeiro. A ideia é instalar a fábrica de iPad no complexo industrial do Porto do Açu, localizado em São João da Barra, no Norte fluminense.

O governador Sérgio Cabral teria pedido a Eike que usasse sua influência com os chineses para trazer o empreendimento para o Estado. Procurado, o Grupo EBX reafirmou o interesse por considerar o setor importante, "inclusive para fabricantes da Apple".

Apesar da disputa, os habitantes de Jundiaí vivem a expectativa de receber uma boa parte dos US$12 bilhões que a chinesa Foxconn pretende investir no país. Por contar com a maior das cinco fábricas da empresa no país, a cidade é vista como favorita para sediar a linha de montagem do iPad 2.

A Associação Comercial já começou a fazer as contas para saber quanto o comércio vai faturar a mais por conta da contratação de pelo menos dois mil funcionários até novembro, quando se espera que a unidade inicie a produção dos primeiros equipamentos com a marca da maçã. A própria prefeitura, que tinha como certa a escolha da cidade e havia comemorado antes do anúncio na China, reduziu o entusiasmo para não criar "uma falsa expectativa".

Na fábrica, localizada às margens da Rodovia dos Bandeirantes, e onde são montados desktops, netbooks e notebooks das marcas Dell, HP e Sony, funcionários ouvidos pelo GLOBO confirmam que há uma grande expectativa em relação à produção dos iPads, que poderá ser feita em um dos galpões que vagou no complexo da fábrica. Também é de conhecimento de boa parte dos 3.200 funcionários da unidade que a empresa passou a operar um galpão no condomínio do Distrito Industrial, localizado bem próximo à fábrica. O novo endereço foi registrado na Junta Comercial da Cidade. Empresa diz que número de funcionários crescerá 30% - O espaço não é o ideal, mas dá para montar uma linha de produção - disse o representante do Sindicato dos Metalúrgicos de Jundiaí, Evandro Oliveira Santos, lembrando que a direção da Foxconn tem negado o projeto de ampliação da fábrica.

Muitos funcionários estão vendo o investimento como uma oportunidade de crescimento. - É claro que eles vão utilizar a mão de obra já qualificada para dar o start na produção do iPad - disse a operadora de testes da empresa e delegada sindical Andréia Barbosa. Procurada, a Foxconn informou que não vai se manifestar até ser definida a localização da nova fábrica. Na nota com dados institucionais, a empresa afirma que tem cerca de 4.300 pessoas "representando o nome Foxconn no Brasil, e a tendência é de que esse número cresça 30% até o fim do ano". Se a precisão se confirmar, serão contratos para a nova fábrica cerca de 1.300 pessoas.

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