quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Chineses em Natal?

Tenho conversado com amigos que atuam em relações comerciais entre Brasil e Ásia sobre as perspectivas que Natal - e o Brasil - teriam de disputar o mercado turístico (emissivo) da China que surgirá com o advento de, pelo menos, dois fatores:

1) ascenção social - 400 milhões de chineses entrarão para a classe média nestas próximas décadas, estimam por lá;

2) como segunda economia do globo e em disputa com os Estados Unidos, passou a ser estratégico para o governo chinês difundir a sua cultura milenar, combater mitos negativos sobre o país e ampliar relações com nações como o Brasil que tem sido importante parceiro econômico;

Discussões, conversas e tratativas advirão. O mercado local deve estar atento. Natal fica em uma das rotas aéreas entre China e Brasil (a mais usada atualmente). Vamos conversando...

 

...mas a propósito disto, veja matéria abaixo, veiculada no caderno de turismo do Valor Econômico de hoje (interessante!):

 

Printemps exige vendedor poliglota e Lido serve comida indiana

Paris muda para atender os turistas do Bric

Daniela Fernandes | Para o Valor, de Paris

Com a explosão do número de turistas dos países do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) na Europa, que são, hoje, os que mais têm dinheiro para viajar e comprar, os diversos setores ligados ao turismo se movimentam para atender a nova demanda crescente, o que inclui adaptar-se às grandes diferenças nos hábitos culturais dos visitantes de cada um dos países do grupo.

"Quem quiser atrair essa clientela tem de se adaptar", diz Paul Roll, diretor do Escritório de Turismo de Paris. Enquanto os brasileiros não hesitam em degustar o "foie gras" (patê de fígado de ganso) e outras especialidades da gastronomia francesa em bons restaurantes da cidade, os indianos são totalmente apegados à cozinha de seu país, um critério relevante na escolha dos passeios.

Por esse motivo, o cabaré parisiense Lido, na Champs-Elysées, local frequentado principalmente por turistas, trouxe da Índia um chef para preparar receitas específicas para essa clientela, servidas durante os espetáculos. O número de clientes indianos e também brasileiros da casa de espetáculos registrou o mesmo crescimento, de 19% em 2010 na comparação com o ano anterior. O de chineses aumentou 14%.

"A clientela russa permanece estável, mas possui um forte poder de compra", afirma Hervé Duperret, diretor comercial do Lido.

"É impossível colocar os turistas do Bric em uma mesma categoria. Alguns, como os brasileiros, estão acostumados a viajar e falam línguas estrangeiras. Outros, como os chineses, viajam majoritariamente em grupo, com guias, não falam outra língua e têm pouco contato com a vida da cidade", diz Roll.

As diferenças de comportamento entre os turistas do Bric não param por aí. Muitos russos fazem questão de comprar os produtos com preços mais elevados e podem até ficar "ofendidos" se o vinho servido, por exemplo, não estiver entre os mais caros do cardápio, afirmam profissionais ligados à área do turismo.

Os chineses não teriam, afirmam fontes do setor, uma "cultura de viagens". Já os brasileiros e russos têm mais o hábito de viajar e costumam frequentar outras regiões, como as praias da Côte d'Azur e os Alpes, para esquiar. Que o diga o hotel La Sivolière, na elegante estação de esqui de Courchevel, com diárias entre € 400 e € 3,8 mil, onde a principal clientela é russa.

O número de brasileiros aumentou mais de 50% no ano passado e já está entre os cinco maiores públicos do La Sivolière, diz Julien Strozyk, responsável pelas reservas. O hotel passou a oferecer jornais brasileiros e também possui funcionários que falam português e russo.

Muitos brasileiros e russos preferem se hospedar em hotéis de altíssimo luxo em Paris, os "palácios", em suítes que custam a partir de € 800, enquanto os chineses, que se tornaram os turistas que mais gastam em compras na França, segundo dados da Global Blue, costumam ficar em hotéis afastados do centro da capital.

"Há alguns anos, apenas algumas grandes redes de hotéis faziam versões de seus sites em outras línguas não ocidentais, como o russo e o chinês. Hoje, hotéis pequenos, de duas e três estrelas, traduzem seus sites nessas línguas e, em alguns casos, também em português", afirma Eric Provost, gerente da 3W Communication, especializada na tradução de sites, cardápios para restaurantes e documentação de hotéis.

Os turistas do Bric não fazem compras da mesma maneira: os chineses passam boa parte do tempo nas grandes lojas de departamentos, como a Printemps e a Galeries Lafayette, onde ônibus de excursões do país podem ser vistos nos arredores.

"Os chineses querem comprar um máximo de produtos em pouco tempo. Eles não param nem para tomar um café. Eles querem artigos que simbolizem um reconhecimento social e compram sobretudo bolsas, carteiras, relógios e joias de grifes de luxo", diz Laurent Schenten, diretor da divisão internacional da Printemps.

Segundo ele, as vendas para a clientela chinesa, que é a maior estrangeira, em termos de faturamento, aumentaram 400% em 2010 na comparação com o ano anterior.

"Os brasileiros conhecem bastante as marcas de moda e também compram artigos de prêt-à-porter. Muitas brasileiras utilizam os serviços do 'personal shopper' da loja para obter conselhos na área", diz Schenten.

Entre as cinco principais nacionalidades da clientela estrangeira do Printemps, três são de países do Bric: China, Rússia (em terceiro lugar, atrás do Japão) e Brasil (atrás dos Estados Unidos). As vendas para os turistas brasileiros cresceram 160% no ano passado na comparação com 2009, diz o diretor da loja de departamentos.

"A clientela do Bric é uma prioridade capital para nós", afirma Schenten. Por esse motivo, na hora de contratar vendedores, a Printemps passou a exigir que eles falem além do francês e do inglês, uma terceira língua, que deve ser português, russo, chinês ou ainda árabe. "Os critérios de contratação de funcionários hoje não são os mesmos exigidos há três anos. Também aconselhamos aos lojistas a proceder da mesma maneira", afirma o diretor do Printemps.

A loja de departamentos analisou as necessidades e o perfil de consumo de cada clientela e criou, há um ano, um departamento VIP com funcionários que falam diversas línguas, incluindo o chinês, russo e português, e também reforçou o serviço de informações da loja com atendentes que falam essas línguas.

Os brasileiros fazem muitas compras, mas também privilegiam os passeios culturais. Eles representaram a segunda nacionalidade que mais visitou o museu do Louvre no ano passado, disse ao Valor Catherine Guillou, diretora de atendimento ao público do museu mais famoso da França.

Dos 8,5 milhões de visitantes do Louvre em 2010, os brasileiros totalizaram 410 mil. O maior número foi de americanos (650 mil). Os chineses e russos estão, respectivamente, na nona e na décima posição. Em 2007, o Brasil ocupava o 11º lugar no ranking de visitantes do Louvre.

Segundo Guillou, em razão do aumento do número de visitantes brasileiros, o museu estuda traduzir para o português o mapa informativo do Louvre, e também documentos na área de multimídia, como áudio guias para visitar o museu. "Isso será uma prioridade assim que tivermos o financiamento possível para fazer traduções nessa língua", diz a diretora.

O total de turistas do Bric que visitam a capital francesa já ultrapassou o dos japoneses, que foi de 500 mil no ano passado (aumento de 9% em relação a 2009), segundo o Escritório de Turismo de Paris.

A capital francesa recebeu 130 mil turistas chineses em 2010, um crescimento de 33%. O total de brasileiros, que cresceu 50% nos últimos três anos, (os resultados do ano passado ainda não foram fechados) atingiu, no mínimo, 210 mil em 2010. O número de visitantes russos (180 mil) e de indianos (106 mil) em 2009 (último dado disponível) também deve ter aumentado, nas previsões oficiais.

Nenhum comentário: