Geração medicada
A escritora Lya Luft diz que os modismos e o estresse brutal estão fazendo as pessoas trocarem a filosofia de vida por remedinhos para dormir, trabalhar, transar. "Minha questão é contra a banalização. Na hora de sofrer, tem de sofrer!", diz
Lola por: Luísa Dalcin
Janete AndermanLya Luft: assumir ser diferente é importante, embora seja doído |
Loira de radiantes olhos azuis, a gaúcha Lya Luft, de 73 anos, vem de uma cidade de colonização alemã, Santa Cruz do Sul. Foi lá que, em meados dos anos 40, a então menina Lya foi cercada por um grupo de crianças que em torno dela dançavam e cantavam: "Alemã batata come queijo com barata". O episódio, contado em seu novo livro, A Riqueza do Mundo (Record, 272 págs., R$ 34,90), ilustra o valor - para o bem ou para o mal - que a diferença ganhou na vida de uma escritora que está longe de ser comum: do bullyng infantil meio torto, desencaixado do habitual, ao sucesso atingido já na maturidade. "Às vezes, ser diferente dói: sei disso", escreve.
Tradutora de alemão e inglês, Lya Luft começou a carreira literária aos 41 anos, com o romance As Parceiras (1980), e se tornou um fenômeno na casa dos 60, com o livro Perdas e Ganhos (2003), cujas vendas estão hoje em torno de 1 milhão de exemplares.
O sucesso deixou todo mundo atônito, ela incluída. A resposta acabou sendo dada pelos agentes internacionais que a procuravam para comprar os direitos. Todos diziam, ela lembra, a mesma frase: "Parece que esta mulher escreveu para mim". A identificação, curiosamente, vinha do testemunho dessa vida incomum, marcada (para o mal) pelo sofrimento da dupla viuvez e (para o bem) por um novo casamento na maturidade, com um saldo de três filhos e sete netos. Uma tecnologia de sofrimento ímpar, mas também um capital de afeto sem preço.
Com essa bagagem, Lya virou uma defensora de que viver o sofrimento, o luto, é importante. "Na hora de sofrer, tem de sofrer!", ela diz nesta entrevista concedida a LOLA em sua cobertura, em Porto Alegre, apontando a tendência moderna de trocar os questionamentos por remédios - às vezes, só por modismo. E de que assumir ser diferente, embora doído, pode ser importante.
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