sábado, 18 de junho de 2011

BlackBerry e Nokia 'ruins das pernas'? Vá entender...

Ações da fabricante do BlackBerry caem 21%, após maus resultados

Queda ocorre após empresa, sem lançar novos produtos e perder mercado, reduzir projeções

NATÁLIA PAIVA
DE SÃO PAULO

Há três anos, a RIM (Research in Motion), fabricante do então smartphone mais desejado do mundo, o BlackBerry, valia US$ 80 bilhões.

Seu valor de mercado fechou ontem em US$ 14,3 bilhões, após as ações caírem 20,7%, puxadas pela revisão para baixo da projeção de ganhos no segundo trimestre.

A estimativa vem na esteira do atraso em lançar novos produtos e da perda de participação de mercado, principalmente nos EUA. No Brasil, a fatia foi de 20,3% para 14% em um ano, segundo a empresa de consultoria Teleco.

As ações fecharam o dia em US$ 27,24, o menor nível desde 2006, queda de 57% no acumulado de 12 meses.

A RIM teve lucro líquido de US$ 695 milhões, ou US$ 1,33 por ação, e receita de US$ 4,9 bilhões no primeiro trimestre do ano fiscal de 2012, encerrado em maio. Embora venda e receita tenham subido, as margens operacionais caíram sete pontos, para 18%.

"A desaceleração que vimos no primeiro trimestre irá continuar no segundo; atrasos na introdução de novos produtos no fim de agosto nos levam a reduzir as expectativas", afirmou Jim Balsillie, co-CEO, em relatório.
As projeções para o trimestre são lucro de US$ 0,75 a US$ 1,05 por ação (o mercado previa US$ 1,40, inicialmente) e receita de até US$ 4,8 bilhões (a previsão inicial era de US$ 5,47 bilhões).

"Creio que estejamos vendo os últimos dias da RIM", diz Rob Enderle, presidente da consultoria Enderle. Para ele, a RIM precisa ser adquirida ou firmar parceria para impulsionar sua estratégia de produto e melhorar seu posicionamento de mercado.

"Poucas companhias nessa situação sobrevivem. A maioria dos executivos está tão focada na questão financeira que não formula estratégias necessárias para a empresa sobreviver e florescer."

ANÁLISE

Research in Motion está muito mal; mas a finlandesa Nokia está ainda pior

DO "FINANCIAL TIMES"

As duas fabricantes de celular cujas sedes ficam pela altura do Círculo Ártico, a canadense RIM e a finlandesa Nokia, estão com problemas.

Ambas perdem mercado e poder de definir preços favoráveis, porque aparentemente não são capazes de lançar produtos inovadores em ritmo que as permita acompanhar a Apple ou fabricantes que usam o Google Android. As ações de ambas no momento têm suas cotações mais baixas em anos. O anúncio dos resultados trimestrais da RIM lembrou muito os recentes da Nokia, por incluir tanto números concretos como projeções bem abaixo do esperado.

Mas vale a pena lembrar que, por piores que sejam as perspectivas da RIM, as da Nokia são ainda mais negativas e falam em queda de preços e volumes em dimensão suficiente para reduzir o lucro da empresa a zero. Os pessimistas podem argumentar que em um ou dois trimestres a RIM estará igual.
Mas existem razões para que a RIM se prove capaz de sustentar as coisas por mais algum tempo. Seus principais clientes são empresariais -mais leais que os compradores de varejo dos quais a Nokia depende. E os preços médios da RIM continuam a ser três vezes mais altos que os da Nokia, o que oferece mais proteção aos lucros.

Não há dúvida de que a RIM está muito exposta. Caso não consiga levar produtos melhores aos mercados com mais rapidez, pode perder completamente a força.
Mas o fato de ainda ser lucrativa oferece prazo maior para correção. A RIM está trêmula; mas a Nokia já está quase congelada e desesperadamente à espera de ajuda. A distinção talvez não resulte em melhora para o investidor; mas não é irrelevante.

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