Acuados, governadores fazem pose de parceiros
Autor(es): Tiago Pariz e Izabelle Torres |
Correio Braziliense - 24/04/2011 |
Interessados em ter projetos aprovados no Congresso, administradores estaduais aliviam nas críticas a Dilma e começam a ser chamados de "oposição aliada" Uma das maiores dificuldades da oposição tem sido afinar o discurso de governadores e prefeitos. Dependentes diretamente do governo federal, os administradores temem aparecer como opositores críticos e perderem os poucos espaços que podem ocupar nas relações com o Executivo. Em alguns casos, como em Alagoas, onde o tucano Teotonio Vilela transita entre petistas e se vangloria dos canais que conseguiu abrir nos últimos anos, o discurso e as análises sobre a atuação da nova presidente mais parecem de um integrante da base do que de um oposicionista. A posição de gestores como o alagoano ganhou o apelido entre parlamentares governistas de “governadores da oposição aliada”. “São os que estão nos partidos opositores, mas precisam tanto da gente que preferem se camuflar de nossos parceiros. É estranho porque não fazíamos isso no governo tucano. Mas é compreensível”, diz um líder governista na Câmara. São exemplos como esse que têm desfalcado e esvaziado o discurso das legendas de oposição. Com projetos tramitando no Congresso que interessam diretamente a alguns estados e dependem do apoio dos partidos comandados pelo Planalto, os políticos de oposição sabem que inflamar discursos e adotar posturas críticas só atrapalham os planos e as pretensões regionais. Nesse bolo, estão temas fundamentais para a sobrevivência dos entes federados, como renegociações de dívidas, aumento de capacidade de endividamento e recursos enviados por meio de medidas provisórias. Efeito Lula Com isso, Lula conseguiu trazer para sua tropa de choque prefeitos que até 2002 faziam o contraponto da mobilização do PT nos movimentos sociais trabalhando para o PSDB e o DEM. Ao enxugar a capacidade mobilizadora dos adversários, o ex-presidente — e o PT, a reboque— escanteou a oposição a discursos no Congresso Nacional, numa guerra desigual. Essa estratégia fortaleceu a regionalização do PSDB e do DEM e pôs de lado o PT, sobretudo em estados como Minas Gerais e São Paulo. A parceria com os governos estaduais teve como revés a incapacidade de o partido mostrar aos eleitores regionais a diferença entre o que foi realizado pelo Palácio do Planalto e o que saiu da caneta do governador. Agora, Luiz Inácio Lula da Silva tenta recuperar o terreno que ele mesmo perdeu mergulhando na reorganização regional do PT, antecipando a disputa pela prefeitura de São Paulo —considerada vitrine para a disputa de dois anos mais tarde. Ao mobilizar sua tropa, ele também coloca os petistas para se prepararem para um embate com José Serra. Com isso, diminui a importância de Serra e abre espaço para que a reorganização dure mais do que apenas dois anos, sobretudo em São Paulo. Lula cria entre seus comandados um imaginário de que há a possibilidade de o PSDB ou de algum aliado continuar no comando da cidade. Ao diminuir as expectativas, ele permite usar a disputa municipal como um laboratório e lançar um candidato pouco conhecido, como o ministro da Educação, Fernando Haddad. O balão de ensaio teria como alvo a disputa estadual de 2014.
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